segunda-feira, julho 31, 2006



Tamanduá - Escultura de Carlos Augusto Nenha feita em parceria com Deus



NENHA E DEUS


Leonardo da Vinci aconselhava olharmos com especial atenção: as manchas nas paredes, os nós das madeiras, as nuvens em suas formações aleatórias. Visões concedidas a olhares privilegiados, de quem consegue estar atento às subjetividades desenhadas pelo acaso. Meditações que aprimoram nossa percepção. Para Platão, as esculturas sempre existiram dentro dos blocos de mármores. Aos escultores cabia apenas retirarem os excessos. Saber os limites desses excessos é tarefa do olhar, olhar que tem que ser educado e que é determinante na qualidade do artista.
Carlos Augusto Nenha é professor de parasitologia na UFG, ofício que lhe possibilita visões fantásticas oferecidas pelo microuniverso em que navega como pesquisador, perseguindo microvidas plurimorfas. Exercício que aguçou sua imaginação, abrindo a percepção para ver o que passa despercebido por olheiros apressados.
Nenha começou a colecionar esculturas naturais que coletava em suas andanças pelo Cerrado no município de Caldas Novas. São sobras de árvores, tocos carcomidos pelo fogo e ações do tempo, formas trabalhadas pela natureza, esculpidas com cinzéis de areia, chuva e vento, imagens agonizantes que lembram animais pré-históricos, esqueletos de vidas perdidas.
Percebendo que não eram obras prontas, sentiu necessidade de interferir, juntando peças, compondo cenários, criando situações que nos remetem às instalações. Como se fossem presépios que mostram não o nascimento de Deus, mas deuses morrendo, afinal: Deus é essa natureza que hora padece.


Gomes de Souza
Março de 2006

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