segunda-feira, agosto 07, 2006

E N T R E V I S T A


27/04/2001

"Tudo que vejo, ouço, leio, sinto, bebo e como me influencia"
O site do mercado cultural orgulhosamente apresenta: Gomes de Souza
Por: Leonardo Rodrigues

Críticas. Bem humoradas. De vanguarda. Essas são algumas das expressões que podem permear quaisquer insuspeitas observações sobre a arte do inquieto garoto de São José de Mossâmedes - Goiás, José Antônio Gomes de Souza, nascido em 1955.
Garoto sim! Afinal ele fala "meio de brincadeira", tem "uma banda de rock", quer se "divertir", ocupar-se "de algo prazeroso, próximo da vadiagem", e fazer "história em quadrinhos"
Para quem ainda não ligou o nome a pessoa, o Gomes de Souza é o (i)responsável pelas não despercebidas ilustrações - com cara de brincadeira de recortar revistas - que estão enriquecendo as "páginas" deste site desde o último doze de abril.
O artista mudou-se para Goiânia aos dezessete anos - quando já somava onze anos de labuta - para terminar os estudos colegiais. Envolveu-se com movimentos culturais, conheceu pessoas ligadas à literatura, música e artes plásticas. Em 1975, começou a consolidar sua aproximação da "vadiagem", montou com Carlos Dacruz um estúdio de pintura, iniciando suas pesquisas e aprendizagem da arte de pintar.
Passa a conviver com Nazareno Confalonni, D. J. Oliveira, Iza Costa, Cleber Gouvea, Siron Franco e Juca de Lima. Lá está o Gomes entre os originais artistas que despertam o interesse da crítica e do mercado nacional - ele é um deles.
Em 1997 e 1998 nosso "garoto" faz arte em espaços públicos. A Assembléia Legislativa de Goiás tem o Gomes, em parceria com M. Cavalcanti, numa série de painéis sobre a mudança da capital de Goiás Velha para Goiânia. A dupla se repete em outros painéis, desta vez na Câmara Municipal de Goiânia.
"Objetos do Riso" a história em quadrinhos que virou romance também saiu em 1998 – escritor, outra face do inquieto. No ano seguinte, o artista já pode filosofar com aval do canudo, formou-se na arte de Platão pela Universidade Católica de Goiás.
Para entrar em contato com o Gomes de Souza, o e-mail é: gomessemog@brturbo.com.br Quisemos saber mais sobre o Gomes. Na sequência, você degusta outras hístórias e idéias do novo colaborador do site do mercado cultural.

Pensarte - Quais são suas influências?
Gomes - Falo meio de brincadeira, que o artista é feito dos sentimentos mais baixos e mesquinhos que possui o homem. É fundamental para o artista ter inveja, vaidade, orgulho, egoísmo, prepotência... e, nessas baixarias todas, Picasso era um mestre. No Brasil o que me emociona plasticamente são as escolas de samba do Rio de Janeiro e de São Paulo. O resultado estético é sem igual, sem falar no universo humano atrás de cada carnaval, é como se fosse uma pintura, uma pintura viva, com coreografia, som e cheiro, feita por um número muito grande de artistas, conhecidos e anônimos. E o que é mais doido, pra tudo acabar na quarta feira.
O desfile no sambódromo é a materialização do que Heidegger chamou de a autonomia da obra de arte, onde o artista tem que se anular para que a obra possa brilhar em sua plenitude, sem a contaminação do autor. Penso que em artes plásticas, a figura do grande ídolo, mestre, gênio que vigorava em nosso meio está desaparecendo. Eu, particularmente, gosto de uma gama muito grande de expressões, meu gosto se diversifica cada vez mais. E tudo que vejo, ouço, leio, sinto, bebo e como me influencia com toda certeza.

Pensarte - Você segue algum estilo ou movimento?
Gomes - Meu trabalho é uma colagem de vários estilos e mídias; gosto de pintar, de escrever, tenho uma banda de rock onde canto e componho. Sei que estas atividades por mais diversas que sejam, se interagem e integram, a metafísica do objeto poético é a mesma em todas as expressões artística, o que muda é a técnica e a técnica é exercício. Para os gregos a arte se misturava com a técnica. Do século dezoito para cá, a arte deixa de ser representação e passa a ser expressão, liberando o artista do virtuosismo técnico, distanciando-o do artesão

Pensarte - Quais técnicas você usa?
Gomes - Então, eu falava de minha tendência às experimentações. E, o que é legal no novo é o desafio do material, do instrumental. É como se fosse mais prazeroso aprender a tocar o instrumento do que fazer um concerto. É o encantamento da descoberta. Atualmente estou em lua-de-mel com os "Webarts" que estou produzindo para o Pensarte. É uma coisa maluca demais, as possibilidades que o computador, enquanto ferramenta, me dá. Ele amplia fantasticamente minha visão. Para produzir estas imagens, me transvisto em fotógrafo, em escultor, em pintor, em desenhista em artista performático, vez que, sou perfomático quando aventuro em uma mídia high-tech. Fotografo ao operar o scaner que irá reproduzir o trabalho do escultor que criou os objetos, pintor que cromatizou, que iluminou, que.... Isto, com a comodidade de morar em Goiânia a uns mil quilometro onde o www.pensarte.com.br é editado. Mas, quando se fala em pintura não abro mão do prazer de saber fazer, de preparar minhas telas, criar minhas tintas. Não poderia ser diferente, minhas tintas são misturas de várias tintas. Mais um trabalho no meu trabalho.

Pensarte - Quais são os propósitos do seu trabalho?
Gomes - Me divertir. Tive que trabalhar muito cedo e não gostava do que fazia, minha mãe (dona Abi-Maria) me colocava para vender "puxa" um tipo de doce caseiro horrível. Eu tinha uns seis anos. Depois, aos oito, fui trabalhar em uma oficina mecânica, fiquei ali até os treze. Foi fantástico o mundo da mecânica, enquanto meus amigos brincavam com carrinhos de plástico eu guiava carros de verdade. Depois trabalhei em farmácia, farmácia do interior, onde você é médico, enfermeiro, pacoteiro e caixa. Acredita que já fiz parto? Depois trabalhei como datilógrafo, professor, despachante, desenhista de arquitetura. Mas, sempre com uma certeza: detestava trabalhar. Sempre quis me ocupar de algo prazeroso, próximo da vadiagem, ser artista.

Pensarte - Comente o livro "Objetos do Riso".
Gomes - Sou muito, muito vaidoso com este romance. A idéia inicial era fazer um história em quadrinhos. Eu tinha pronto na minha cabeça como se fosse um filme, com música e tudo. Mas, me sentia inseguro em fazer o texto. Aí propus uma parceria ao Marcelo Queiroz, jornalista e meu amigo. Ao ver as anotações, as idéias, preguiçoso como ele é, me disse: Ah!!!... Gomes você mesmo é que tem que escrever! Escrevi. Só que os textos criaram outras imagens, que apagaram os desenhos. Os textos se fizeram romance e foi publicado com o prefácio do grande escritor José J. Veiga. O livro conta a história de uma dupla caipira, que não é uma dupla específica, é uma dupla imaginária onde exploro os " cliches" que compõem o universo desses artistas. Quem quiser ler o livro que me escreva.

Pensarte - O que você tem feito atualmente?
Gomes - Tenho juntado muitas quinquilharias para criar as imagens para o Pensarte.
É um processo super legal, tenho que ficar atento aos objetos, tentando ver outros sentido neles, fazendo outras leituras. Por enquanto estou limitado ao tamanho do scaner, esta me fazendo falta uma câmera digital. Também estou escrevendo um outro romance, e gravando um CD com minha banda a "The Rugas"

Pensarte - Você tem experiência em ilustração de textos? O que pensa sobre este trabalho?
Gomes - Em 1978, quando deixei meu último trabalho (o de desenhista de arquitetura), com o propósito de viver exclusivamente de arte, tive que ampliar meu leque de ações, foi então que fiz: capas de livros, ilustrações, retratos, quadros que atendessem ao gosto de uma classe média, aquela coisa de quadro que combina com sofá.
O trabalho de ilustrador é instigante, você tem que transformar a linguagem da escrita em linguagem visual. Tem que criar um símbolo que atraia a atenção do perceptor para a leitura do texto. Gosto de fazer e tenho o maior prazer nesse desafio de trabalhar sobre uma provocação.

Pensarte - Qual sua opinião sobre o Pensarte?
Gomes - Quando o PX. Silveira (Funarte – SP) me falou que o Leonardo Brant (pres. Instituto Pensarte) estava precisando de um ilustrador para o site do Instituto, eu já conhecia a publicação e navegava nela. O Pensarte atende a necessidade que ao produzimos arte e cultura temos em relação a informações. Quase não temos publicações que atendam este segmento. Penso que o Pensarte tem tudo para ser um sucesso também como mídia impressa.

Pensarte - Tem projetos futuros?
Gomes - Que o futuro me seja generoso como tem sido o meu presente e meu passado. E que eu possa continuar fazendo o que gosto, mesmo que para isso, tenha que ficar enfurnado em meu estúdio por quatorze, dezesseis horas por dia

Um comentário:

Anônimo disse...

Tanto a entrevista quanto as respostas levam o leitor a pensar.
Parabéns, Gomes, o seu blog está mt legal.